GEOGRAFIA DA DESOLAÇÃO
GEOGRAFIA DA DESOLAÇÃO
Odaci Lima
O desenvolvimento econômico,no Planeta Terra, obedece a um processo evolutivo a que estamos, todos, submetidos. Diferentemente do que ocorre com o processo político, em que a intervenção do homem deve ser mais cautelosa, no processo econômico os fatores humanos "pressentem" maior liberdade de ação, desde que não constitua obstáculo à manifestação dos fatores imponderáveis.
Para os fins a que se propõe o presente trabalho,definimos subdesenvolvimento como o estado em que a população de um país ou região submete-se, por falta de recursos, a restriçõas contínuas quanto ao uso e consumo de alimento,habitação,saúde,segurança, cultura,transporte, energia elétrica, saneamento básico e água tratada, até os limites do suportável; ou quando, embora distante destes limites, esteja em posição de inferioridde em relação a outros, mais desenvolvidos, onde estas restrições são quasi inexistentes ou incidem com menor intensidde. Assim sendo, pode-se dizer que desenvolver é suprimir restrições vitais.
Realmente, é uma infelicidade que 1,5 bilhão de pessoas, no mundo, estejam sobrevivendo em condições que as situam abaixo da linha de pobreza absoluta.(ALMANAQUE ABRIL,2000)1 Isto significa fome, mortalidade infantil, ausência de escolas, moradias, atendimento médico-hospitalar, saneamento básico e auto-respeito. E não há boa vontade ou boa política capaz de resolver o grave problema sem que, antes, haja um crescimento da produção e da renda per capita nos paises e regiões onde os índices sociais sejam indicativos de baixas condições de sobrevivência."Mesmo os que não passam propriamente fome ou que, a bem dizer, não são doentes", diz um especialista, "vêm-se obrigados a uma existência extremamente frugal, sendo negado à maioria qualquer tipo de luxo, de variedade de alimentação ou de modo de vida. Estão fadados a ansiar por uma melhora de condições, não importa qual possa ser sua perspectiva de vida". (TINBERGEN)2
Na Região Nordeste do Brasil, onde se encontram nove estados (Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraiba, Pernambuco, Alagoas, Bahia e Sergipe) ocupando mais de 1,5 milhão de quilômetros quadrados, os índices sociais são muito baixos. Segundo o Almanaque Abril, encontram-se,aí, as 150 cidades brasileiras com maior taxa de desnutrição. Para quem se preocupa com problems de subdesenvolvimento em regiões de ecologia frágil, como é o caso da Zona Semi-Árida do Nordeste,o Polígono das Secas, as considerações acima devem ser objeto de profunda reflexão. Nessa área,onde são escassos os recursos de água, solo e vegetação, não devem ser esquecidas técnicas de manejo de recursos hídricos e pasto, e de preservação em agricultura. As matas que margeiam os rios, bem como suas fontes, também merecem proteção. E devem-se evitar o emprego de agrotóxicos e fertilizantes químicos,priorizando o emprego de adubos orgânicos.
Sei que é preciso muita coragem para assumir a responsabilidade de propor a busca de uma identidade própria para a agricultura sertaneja. Se o nosso clima é diferente, temos que nos adaptar a esta diferença, a partir da comcepção de uma política realista.
Foi Otomar de Carvalho quem melhor descreveu o Nordeste do Brasil como uma região problema. "Não é difícil compreender que uma área, com ampla extensão territorial, que apresenta escassas ou reduzidas disponibilidades de recursos naturais, seja abundante em mão-de-obra,com qualificações pouco diversificadas, e pobre em tenologia, e que, além do mais,seja submetida a crises climáticas constantes, embora descontínuas,possa ser caracterizada como uma área problema".(CARVLHO)3 Sem discordar do mestre, desejaríamos apenas acrescentar que, especificamente, o enunciado caracteriza melhor o Polígono das Secas do que o Nordeste Amplo.
Se para Yves Lacoste a geografia do Terceiro Mundo é uma geografia das discordâncias, para nós,nordestinos, a Geografia do Polígono das Secas é uma geografia da desolação.
Fora de qualquer pretenção determinista, é difícil negar a influência do meio geográfico na diferenciação do crescimento. Observe as cinco regiões em que foi dividido o País: Enquanto na Região Norte encontra-se a maior bacia hidrográfica do mundo, a maior parte do Nordeste está circunscrita ao Polígono das Secas, caracterizado por uma isoieta de 600 mm. Em seu interior, correm alguns rios temporários, exceto o São Francisco e o Parnaiba, cujas bacias deveriam ser excluidas do Polígono, por constituirem áreas úmidas muito extensas.
A rara ocorrência de minérios também é limitante. Nunca tivemos,aqui, uma Serra Pelada,uma Carajás, uma Bacia de Campos, e muito menos uma camada de petróleo no Pré-Sal. Mas isto não diz tudo. A verdade é que a história econômica do Nordeste está associada ao fenômeno das secas periódicas. E como ainda não foi possível tornar a economia nordetina resistente às secas, a geografia desta região é estarrecedora, é de desolação.
Pode-se definir a seca como uma drástica redução da precipitação pluviomátrica que costuma ocorrer na metade interiorana do Nordeste (o Polígono das Secas) a que estão sujeitos, parcialmente,os Estados que compõem a região e alguns municípios do Norte de Minas Gerais. Não esquecer que 97% do Ceará está incluido nêsse Polígono. A incidência deste fenômeno aniquila a produção agrícola na área afetada, dizima o gado e causa sofrimento à população, que, então, se submete à falta d'agua, alimentação e outras restrições, inclusive o inaaceitável óbito.
Mas nem sempre o fenômeno assume esta característica. Há ocasiões em que as chuvas alcançam a média histórica da precipitação, porém distribuida irregularmente, com relação à série temporal. É quando ocorre atraso do inverno (como o sertanejo chama a estação chuvos) ou chove muito nos primeiros meses, ficando a insuficiência de chuvas para os meses seguintes, como está ocorrendo neste ano, no Ceará.(2010) Em ambos os casos, as plantas cultivadas ficam seriamente prejudicadas,mas ficam garantidos o abastecimento d'agua à população e a pastagem do gado.
No caso, porém da seca real, quando as precipitações não alcançam níveis próximos da média histórica, o prejuizo alcança todos os setores, inclusive o humano. Abrem-se as porteiras dos currais e o gado é entregue à própria sorte. E as famílias, também. É a desolação.
Se a economia do Nordeste é de desolação, a estatística da seca só manipula orrores. Não há geógrafos, economistas ou estatísticos materialistas, quando falam do Nordeste. Sinta isto ao ler as palavras de um ex-presidente do BNB, um dos homens que derramaram suor e lágrima, a fim de minorar o sofrimento deste povo infeliz:"A seca provoca inicialmente uma crise de desemprego. A falta ou escassez de chuva e a frustração dos plantios, faz com que os fazendeiros despeçam seus trabalhadores, moradores, meeiros e agregdos, os quais imediatamente procuram emprego nas "frentes de trabalho" de emergência, que o Governo é obrigado a abrir. Os minifundistas e pequenos agricultores são, também, levados a abandonar suas terras, quando não há mais possibilidades de obter colheitas. (...) Esta crise de desemprego se desencadeia com grande rapidez, podendo haver dezenas ou centenas de milhares de desocupados em poucas semanas" (DA COSTA)4. Por isso achamos justificavel que quando alguém encontre um sociólogo, economista, geógrafo ou engenheiro que trabalhe ou tenha trabalhado em repartição comprometida com os trabalhos de combate aos efeitos das secas, tire-lhe o chapéu.
Fala-se em combate aos efeitos das secas, mas estes efeitos são duradouros e as consequências de uma são acumuladas com as da seguinte.
Já vimos quais são os danos que ela causa à economia, ao ambiente e seus aspectos sociológicos. Os açudes médios e pequenos secam, a agricultura não resiste, o rebanho de gado mingua e as pequenas propriedades são absorvidas pelas maiores, negociadas, que são, por preço de oportunidade,contribuindo, assim,com o aumento da concentração de posse da terra. Ninguém vai trazer, de volta, o sítio da família, o roçado perdido e o gado dizimado, nem pagar os empréstimos que os fazendeiros fizeram, para fins de custeio e investimento E quem fará ressurgir das cinzas as vidas humanas que a seca seifou? Além do mais,a seca, imprevisível,é um perigoso elemento surpresa. O que é possível fazer é tornar o Polígono mais resistente a este fenômeno meteorológico, o que o DNOCS está tentando, desde 1909, quando foi fundado com o nome de Inspectoria Federal de Obras Contra as Secas (IFOCS).Infelizmente os reursos a ele destinados não têm sido suficientes.
Os objetivos-meios devem ser definidos com seriedade, e o traço de união entre eles e o objetivo-fim é a resistência às secas, em que a geração de empregos não dependentes dos fatores climáticos, em percentual superior ao do crescimento da população, assume papel de destaque. Há, portanto, que se aumentar e consolidar a participação da indústria e serviços na formaçõ do PIB, e executar um plano de irrigação tão sério quanto o que foi feito no vale do São Francisco, na déca de 60. Justifica-se, isto, pelo fato de que, em se tratando de agricultura, água é fator de produção.E é o que mais falta no Polígono.
É natural que, numa região que sofre variadas formas de limitações, o poder público intervenha no sentido de evitar ou atenuar desequilíbrios e disparidades de crescimento. No caso do Nordeste, porém, a política do Governo Central,via SUDENE, que deveria ter-se orientado para anular ou corrigir desequilíbrios, funcionou como elemento de reforço de desenvolvimento diferenciado, ao privilegiar alguns estados da Região. No nosso entender, isto foi a causa de não havermos obtido melhores resultados, em matéria de desenvolvimento, como resposta aos incentivos, valiosos, então dispostos pela Nação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1)ABRIL, Almanaque, volume Mundo,Editora Abril, São Paulo SP,2000.
2)TINBERGEN,Jan:"Desenvolvimento Planejado",Zahar Editores, Rio de Janeiro, Rio, 1975.
3)CARVALHO,Otomar de:"Ações no Campo do Desenvolvimento Regional". Revista Econômica do Nordeste,ano V, vol.17, Fortaleza-CE, 1973.
D4)DA COSTA Rubens Vaz."A Economia do Nordeste e o Desenvolvimento Nacional". BNB, Fortaleza-Ce,1968.
Fonte: http://www.webartigos.com/articles/44605/1/Geografia-da-Desolacao/pagina1.html#ixzz0wOXMLRYl
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