Breve histórico da evolução do pensamento geográfico
Os gregos foram os primeiros a fazer registros sistemáticos de geografia, pois sua intensa atividade comercial permitia-lhes explorar e conhecer diferentes povos e lugares ao longo da costa do mar Mediterrâneo. A própria palavra geografia vem do grego (“geo” = terra; “grafia” = escrita, descrição).
Observa-se que embora os conhecimentos iniciais dos pensadores e escritores gregos pouco se assemelham ao que é a Geografia hoje. Seus trabalhos relativos às formas e dimensão da Terra, aos sistemas de montanhas, aos tipos de clima e as relações entre o homem e o meio, constituíram importantes fontes para o conhecimento geográfico que se desenvolvera bem mais tarde (KOSEL e FILIZOLA, 1996).
O que é Geografia e qual o seu objeto de estudo? As opiniões evoluíram e variaram muito ao longo dos tempos. Inicialmente, o conhecimento geográfico era eminentemente prático, empírico, limitava-se a catalogar e a cartografar nomes e lugares, servindo aos exércitos que avançavam em regiões vizinhas para que o fizessem com mais segurança e em direção aos pontos estrategicamente estabelecidos.
A Geografia surgiu para auxiliar o Estado na apropriação de terras e nas guerras, porém com pouco rigor científico. No entanto, as preocupações científicas, geográficas, surgiram a partir do século XIX, quando Alexandre de Humboldt, fazendo grandes viagens, observou as relações existentes entre as associações vegetais e as condições de clima e de solo, observou também as relações entre os sistemas de exploração da terra e do homem e ainda as estruturas sociais entre dominados e dominadores. Nessa mesma época, o historiador Karl Ritter, que era professor da Universidade de Berlim, procurou estudar os vários sistemas de organização do espaço terrestre, comparando povos, instituições e sistemas de utilização dos recursos. Esses dois alemães de formações distintas, que deram origem a Geografia.
Karl Ritter teve grande atuação na difusão da Geografia no magistério. Ele foi professor do dois geógrafos que deram à Geografia um cunho mais cientifico: Frederic Ratzel e Elisée Reclus (ANDRADE, 1998).
O estabelecimento da Geografia nas universidades da Europa Ocidental ocorreu, a sério, no ultimo quartel do século XIX. O governo da Prússia começou por criar cadeiras em suas universidades na década de 1870, sendo logo seguido pela França e Suíça (FORBES, 1989).
O estudo da Geografia foi encarado na Alemanha como de considerável significado para o êxito do país e deram muita ênfase ao ensino da matéria aos oficiais do exército. O fator mais importante para afirmar a utilidade da Geografia foi a expansão dos impérios coloniais, ocorrida nessa época. A Geografia desenvolveu-se em paralelo com o imperialismo.
Ao mesmo tempo em que acompanhou os grandes desenvolvimentos, sendo, também beneficiada com novas informações, a Geografia foi utilizada como justificativa para a dominação dos povos colonizados. Assim, por exemplo, os povos das regiões quentes, tropicais eram considerados submissos e, se os europeus os escravizavam isso se devia à valentia típica do hemisfério Norte. Segundo essa explicação, o homem era determinado pelo meio, daí a denominação Determinismo que identificava essas idéias, aplicáveis a vários ramos do conhecimento. Porem, quando a Geografia “se emancipou”, ou seja, quando as condições básicas para que se tornasse uma disciplina autônoma estavam satisfeitas, o Determinismo convivia com outras correntes de análise geográfica: ora o espaço físico era mais importante, ora as populações; ora a valorização dos dados quantitativos (KOZEL e FILIZOLA, 1996). Na escola, os conhecimentos geográficos eram transmitidos de maneira inconsciente, por diversas disciplinas, como a sociologia, que estudava as relações humanas nas cidades e na zona rural. Porem, logo após a institucionalização da Geografia, surgiu o professor de geografia, que lecionava unicamente essa disciplina.
O sistema escolar, a escola tal como é conhecida hoje, é algo relativamente recente na história da humanidade: foi construído a partir do século XVIII, no contexto de desenvolvimento do capitalismo industrial e a urbanização, de ascensão da burguesia como classe dominante com o correlato enfraquecimento do poderio e da visão de mundo aristocráticos. Mas a escola como instituição e o sistema escolar como estrutura ligada ao Estado, com obrigatoriedade até certa idade, com fiscalização de conteúdos e procedimentos burocráticos, com uma hierarquia em níveis de ensino, como uma “verdade” preestabelecida pelos órgãos oficiais e transmitida pelos professores etc., é um produto da sociedade moderna ou capitalista no seu instituir-se, especialmente nos séculos XVII e XIX, quando ganhou destaque a disputa entre o Estado e a Igreja pelo controle da educação, vista que a educação serve para incutir nas sociedades valores e ideologias das classes dominantes (VESENTINI, 1995, p.34-37).
No Brasil, oficialmente, a Geografia só começou a ser lecionada em instituições de ensino superior após a Revolução de 30. Nessa época, a Geografia lecionada na Faculdade de Filosofia tinha como principal objetivo formar professores para o ensino médio (hoje assim chamado). Somente após a implantação do curso de Geografia nas universidades de São Paulo e do Rio de Janeiro, é que foram convidados professores da Escola Francesa de Vidal de La Blache e só então a disciplina Geografia passou a ser lecionada por professores licenciados (SEABRA, 1991). Com a criação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e da Associação dos Geógrafos Brasileiros a Ciência Geográfica ganhou mais força, prestígio e reconhecimento no Brasil.
AUTORES:
NEY J. C. SILVA, Geógrafo, especialista e mestre em questões ambientais.
QUINTO F. A. RAMOS, Geógrafo e especialista em ensino superior.
Artigo publicado no Jornal O imparcial, página 4, caderno de opinião, São Luís, MA, 25 de setembro de 2008. Esse artigo é também parte de um artigo científico publicado na Revista Pesquisa em Foco da Universidade Estadual do Maranhão.
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