O ENSINO DE GEOGRAFIA: DAS PRÁTICAS TRADICIONAIS AO MOVIMENTO DE CONSTRUÇÃO DE UMA GEOGRAFIA ESCOLAR CIDADÃ
O ENSINO DE GEOGRAFIA: DAS PRÁTICAS TRADICIONAIS AO MOVIMENTO DE CONSTRUÇÃO DE UMA GEOGRAFIA ESCOLAR CIDADÃ
Valtey Martins de Souza
Nilene Ferreira Cardoso Souza
Antonio Félix da Silva
O presente texto vai tratar do modo como eram vistas e aplicadas às práticas tradicionais no ensino da Geografia Escolar e, também, vai falar da construção de uma Geografia Escolar Cidadã, que procura trazer para o centro da discussão, o objeto de interação do professor, que é outro sujeito, o aluno.
Assim, as palavras de Lacoste citado por Rocha (1998), são bastante claras, pois para ele:
A geografia dos professores nada mais é do que um discurso ideológico, que tem como função, dentre outras, mascarar a importância estratégica dos raciocínios centrados no espaço (p.67).
Nessa concepção, o ensino da geografia no final do século XX era descomprometido e isolado do real, buscando se distanciar o máximo da realidade espacial. Essa metodologia aplicada pelos professores mascara o raciocínio sobre a importância da organização do espaço, e os conteúdos estudados eram de forma mecânica e superficial, fazendo com que não houvesse compreensão, causando certo distanciamento na relação do conhecimento apreendido na escola com a realidade observada. Desse modo, o aprendizado tornava-se sem importância para o aluno, que era tido apenas como um objeto da aprendizagem.
Nesse contexto, essa maneira de ensinar a geografia desconectada da realidade, teve como conseqüência, o desinteresse pelos estudos geográficos, uma vez que não contribuíam para um estudo crítico da organização espacial do mundo, distanciando o nosso alunado da importância do conhecimento geográfico.
Dessa maneira, nas escolas brasileiras, o modelo pedagógico adotado é centrado no autoritarismo, no qual o professor sempre deve ser o centro e, os alunos, são entendidos como recipientes vazios que devem ser preenchidos. Esse modelo educacional que não valoriza os conhecimentos extra-escolares, que não permite a participação ativa do educando, que o torna objeto e não sujeito do seu aprendizado é o de cunho tradicional.
Visto sob essas condições, esse modelo tradicional trata a diversidade e a heterogeneidade de forma homogênea, transformando o educando num mero repetidor de conhecimentos, num indivíduo robotizado. Para isso, o referido modelo educacional faz uso de conteúdos sem nenhum significado para os alunos, onde os professores utilizam metodologias que irão auxiliar cada vez mais, na alienação dos estudantes.
No entanto, outra concepção pedagógica que se opõe ao modelo tradicional, é a de cunho crítico, aquela que compreende a inter-relação entre a educação e a prática social. Esse exemplo pedagógico é aquele onde o professor crítico busca no interior da sala de aula, se utilizar de técnicas de ensino que visem à aquisição do saber sistematizado, principalmente através da utilização da bagagem de conhecimentos que o alunado trás da sua cotidianidade.
Nessa linha de raciocínio, Cavalcanti (1998) entende que é preciso, portanto, formar uma consciência espacial para a prática da cidadania, o que significa tanto compreender a geografia das coisas, para poder melhor manipulá-las no cotidiano, quanto conhecer a dinâmica espacial das práticas cotidianas inocentes, para dar um sentido mais genérico (mais crítico, mais profundo) a elas. Nessa concepção, a produção e reelaboração do conhecimento derivam das interações entre professor e alunos, que por sua vez, trazem uma bagagem de conhecimentos extra-escolar, de fundamental importância para tal reelaboração.
Assim, na perspectiva crítica, a geografia escolar estimula a atividade e a iniciativa dos alunos, sem prescindir da iniciativa do professor, favorecendo o diálogo, de onde brota o início da transformação do indivíduo em sujeito de seu aprendizado.
Nesse cenário, a partir do que foi posto, o ensino da geografia vai permitir que os alunos façam relações de forma sistematizada de suas realidades, despertando-os para a compreensão de sua organização espacial. Dessa forma, esse modelo de ensino terá como objetivos, formar sujeitos, o que difere das políticas neoliberais aplicadas pelos PCNs, como uma geografia humanística que visa formar apenas indivíduos alienados por essa política do Estado brasileiro.
Portanto, essa nova forma de ensinar geografia, tendo o espaço como produto, condição e meio de reprodução das relações sociais, faz com que os alunos comecem a se identificar com seu espaço de uso cotidiano, passando a conhecê-lo de forma particular através de vários olhares, pois, a partir do conhecimento geográfico, obtemos habilidades para compreender o nosso meio, sobretudo as relações travadas no espaço.
Desse modo, concluímos que essa geografia escolar cidadã que vê o espaço como historicamente produzido pelo homem, e a necessidade de conhecê-lo de forma sistemática para melhor organizá-lo numa perspectiva de sociedade mais justa e igualitária, deve ser a geografia escolar que mais se adéqua a formação de sujeitos conscientes dos seus papéis como cidadãos participantes de uma sociedade dinâmica.
BIBLIOGRAFIA
CAVALCANTI, L. S. Geografia escolar e a construção de conceitos no ensino. In:_____. Geografia, escola e construção de conhecimentos. Campinas: Papirus, 1998.
LOPES, A. O. Aula expositiva: superando o tradicional. In: PASSOS, Ilma; VEIGA, A. (Orgs). Técnicas de ensino: Por que não? 2 ed. Campinas: Papirus, 1998.
ROCHA, G. O. R. O papel do professor de geografia na formação de uma sociedade crítica. Revista Ciência Geográfica. Baurú. IV (10): mai/ago, 1998.
_____. A geografia escolar e a consolidação do projeto educacional neoliberal no Brasil. Belém: Mineo, 2002.
Webartigos
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