[ARTIGO] DIA DO GEÓGRAFO III
Possibilidades de contribuição
As transformações na cidade ocorrem cotidiana e diariamente, a cada passar de segundos, ao passo de novas intervenções urbanísticas & a mudança das formas & e ao passo dos hábitos que se recriam ou se perpetuam & a mudança dos conteúdos. As modificações a que se assiste são verdadeiros choques no padrão urbano, enquanto que os conteúdos acabam mantendo uma ideologia de dominação, de reprodução de um modo de vida. Desse modo, a essência das novas formas acaba mantendo relações de poder.
Uma nova perspectiva de transformação dos conteúdos da cidade encontra-se no contexto da reivindicação popular, que neste quesito trouxe grandes contribuições na esfera política nacional, traçando mecanismos que viabilizem a reforma urbana, mesmo que por via institucional, como a criação do Estatuto da Cidade em 2001, do Ministério das Cidades em 2003, do Conselho das Cidades em 2004 e, principalmente, o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS) e o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS) em 2005. Este sistema, aliás, e de seu fundo correspondente são proposições de leis dos movimentos populares e visam ser o principal instrumento de garantia a habitação para população de baixa renda.
A partir da consolidação do Conselho Nacional da Cidade, estados e municípios, compulsoriamente e buscando novos recursos, vêm instalando seus conselhos de cidade, cuja composição e construção ainda atravessam dificuldades, além de não ser um espaço com poder deliberativo. Ademais, no Ceará, não se vê ainda um Conselho Municipal ativamente funcionando. Nesta semana última, ocorreu a posse dos conselheiros estaduais da cidade; em Fortaleza, a efetivação do Conselho Municipal da Cidade depende de questões jurídicas e políticas e, em Brasília, de 19 a 22 de junho, ocorrerá a formação da nova gestão do Conselho Nacional da Cidade. Em ambos os casos, a Associação de Geógrafos Brasileiros (AGB) tem garantido a participação, elegendo conselheiros no Ceará e possivelmente em Fortaleza, como também sendo uma entidade propositiva na construção de uma política nacional de desenvolvimento urbano.
A AGB-Fortaleza, em meio à construção, discussão e participação destes espaços, se propõe a fomentar contribuições por uma cidade mais democrática, fazendo-se valer de seus princípios estatutários, bem como na convergência de forças com os movimentos populares, sendo exemplo a participação no Comitê Popular da Copa 2014.
Inserida nesse contexto, a AGB-Fortaleza dispõe à participação social o Grupo de Trabalho de Urbana, um mecanismo de aprofundamento teórico, conhecimento empírico e concreto e mobilização política acerca das questões inerentes à cidade, como, além da moradia de interesse social, a política nacional de desenvolvimento urbano e a Copa 2014 na capital cearense, temas como a mobilidade urbana, a reestruturação espacial, a crescente expansão da periurbanização combinada à expansão do mercado imobiliário e da vulnerabilidade socioambiental, entre outras pautas que a dinâmica social urbana venha a revelar. Pode ser um instrumento relativamente pequeno este GT de Urbana, mas sua essência e seu objetivo assumem grandeza utópica: o confronto com a crise urbana.
FELIPE SILVEIRA DE MORAES PEREIRA
Bacharel em Geografia e pesquisador da ONG Cearah Periferia
0 comentários:
Postar um comentário